O arroz na Europa

Na Europa, come-se mais arroz do que aquele que se produz, o que a converte no quarto importador mundial. A Itália e Espanha, por esta ordem, são os principais países produtores deste continente. Seguem-se-lhes a Grécia, Portugal e França.

Graças à sua adaptabilidade ao terreno e ao seu rendimento, o arroz “Japónica” (grão redondo) é a variedade que, por tradição, mais se tem cultivado na Europa. No entanto, a população europeia prefere o arroz “Índica” (grão longo), sobretudo nos países nórdicos. No que respeita ao consumo, a prevalência do arroz tradicional tem estagnado nos últimos anos, uma vez que especialidades como o vaporizado, o longo ou o integral têm vindo a ocupar melhores posições no ranking dos mais vendidos.

As regiões da Lombardia e do Piemonte são o principal abastecedor de arroz na Itália e também da Europa. Desde que a cultura do arroz se iniciou no país na primeira metade do século XV que a sementeira do arroz tem propiciado a construção de canais para drenar os pântanos nestes territórios. Leonardo Da Vinci construiu um nas planícies do rio Pó.

Nos finais do século XIX, Camillo Cavour encarregou-se de erigir o canal que levaria água do rio Pó e do lago Maggiore para outros arrozais, como os de Vercelli-Alessandria, Pavia e Novara. Na actualidade, este canal recebe o nome do seu autor: ‘Canal Cavour’.

Este alimento não só inspirou grandes construções, como possui em Espanha também uma grande importância ambiental e social nas zonas húmidas como, por exemplo, na região de Doñana, na Albufeira valenciana e no delta do Ebro, onde não seria possível trabalhar outro produto.

ARROZ COM ARTE
Se bem que muito presente na cultura e na tradição orientais, o arroz conquistou também na Europa o seu lugar no quotidiano, embora talvez menos patente. Os italianos costumam dizer que “o arroz nasce na água, mas morre no vinho”. Antigamente, em Espanha, às mulheres que estavam na chamada “idade casadoira”, se não encontravam pretendentes, dizia-se-lhes: “vai-se-te estragar o arroz”. O artista Giovanni Pascoli criou um poema cuja musa nasceu de um prato de arroz e, na sua célebre ópera Tancredi, Rossini incluiu uma ária sobre este cereal.

Entre os arrozes mais prestigiados da Europa, destaca-se, sem dúvida, o risotto italiano, de que se criaram variedades como o Arborio e o Carnaroli. O Risotto alla Milanese é o mais famoso de Itália. Segundo a tradição, a receita deste arroz amarelo surgiu durante a construção da conhecida catedral de Milão no século XVI. A história conta que o açafrão se utilizava para colorir os vitrais da catedral e que se acrescentou este ingrediente ao prato de risotto para fazer uma brincadeira.

Outros pratos internacionais europeus são a paella espanhola – especialmente a de Valencia – e o roulé de feuilles de riz au thon, o arroz enrolado com atum de Espanha – originário da Camargue. Se o ingrediente adicionado a este último prato é o atum, à paella valenciana o timbre é dado pelos legumes, o frango e/ou o coelho, o azeite virgem, o colorau e os fios de açafrão. É assim que a Europa tenta contribuir para o mundo com o seu “grãozinho de arroz”, embora ainda lhe falte muito por semear.